Artigo: O vôo não pode ser ensinado, mas pode ser encorajado (Escrito por Luís Bomfim)
"...e a cidade vai voar?"
Boa tarde a todos os amigos,
A manhã desse dia se apresentou maravilhosa aos nossos olhos; mais uma vez o Senhor preparou para que nele nos regozijassemos, mesmo depois de uma noite difícil e mal dormida, devido a uma crise de hipertensão, que de uns tempos para cá, quando acontece, ataca imediatamente os pulmões e os brônquios provocando crise de bronquite. E com a agravante de não ter para quem nem onde pedir socorro, já que nossa cidade está desprovida de qualquer meio de assistência médica, seja na UPA, onde não há médicos nem medicamentos; seja no “Xico Dor”, que há muito deixou de ser um hospital e está sendo preparado - como vimos na foto postada pelo Vinícius Sobral - para se tornar ponto turístico, como é em Roma o Coliseu; em Éfeso o templo de Artemis; Chichen Itza, no México e tantas outras ruínas espalhadas pelo mundo.
Não tendo, portanto, por forças das circunstâncias apresentadas acima, reunido condições para cumprir meu dever de enfrentar a Av. Brasil e estar presente na faculdade, lá na Ilha do Fundão, resolvi dar uma conferida nas postagens aqui da nossa querida rede social e me deparei com alguns novos, outros antigos, mas todos sempre repetidos protestos, reclamações, e justificativas dos nossos queridos amigos. Essa tem sido a constante na Linha do Tempo dos amigos, nos grupos dos quais fazemos parte, criados para debater assuntos da política de nossa querida cidade, os quais acho de grande utilidade para a comunidade, pois serve como escola, para aprendermos a fazer política, já que uns tomam posição em defesa de tudo que é indefensável no atual prefeito, enquanto outros encontram nesses grupos a trincheira para atacá-lo e bombardeá-lo com culpas por todos os males que acontecem nas boates da cidade, na cidade e no mundo.
No aprendizado constante e na troca de ideias e informações postadas, destacam-se os mais justos e os mais sábios da cidade. Aqueles que não votaram no atual prefeito. Não votaram, logo não têm responsabilidades e nem culpa por todos os males e por todas as desgraças que acometem a cidade, é o que eles devem pensar. Isso me fez lembrar o ano de 1989 (euforia com a eleição do Collor e de todos os seus eleitores) e 1992 (euforia com a deposição do Collor, quando a nação ficou sabendo que ninguém havia votado nele). Nas duas ou três últimas semanas, antes das eleições, quando começou a se desenhar a vitória do atual prefeito, também fiz menção desse fato em várias postagens, aqui mesmo e nos grupos, dizendo que “o fator” Collor, iria se repetir em Itaguaí.
Bem, a verdade é que Luciano foi eleito. Alguns de seus eleitores, justificando o curto espaço de tempo em que ele está à frente “do negócio”, sem tempo, sequer para formar o secretariado definitivo (só deu tempo de arrumar emprego para alguns parentes e amigos, que foi buscar em outro estado), mantém a esperança de que tudo vai melhorar e que depois de passado o tempo de “arrumação da casa” (já entramos no quinto mês), “se Deus quiser!” tudo vai andar de acordo com as expectativas pelas quais ele foi votado e eleito (?), e a cidade vai “voar”!
Outros, justificando as condições de ingovernabilidade em que seu antecessor deixou a administração da cidade, vão pedindo paciência aos descontentes, fazendo-os ver que a inexperiência são os fatores que o impedem de ter acertado até agora. Mas com a colaboração de todos, com uma festinha aqui, um jeitinho ali, um empreguinho acolá, as coisas vão se acertar.
Finalmente, os arrependidos que vão se juntando à turma do “eu não votei nele”, aos “profetas” do apocalipse ou aos da solução encantada, crendo, provavelmente, que se tivessem votado em qualquer outro, mesmo que fosse um “Tiririca” da vida, todos os reclamos da população já teriam sido resolvidos.
E assim seguem os dias e eu me convencendo, cada vez mais, que Mário de Andrade estava certo ao afirmar que "as pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos". E constatando, cada vez mais, que a solução para todos os problemas políticos e sociais não está na eleição deste ou daquele candidato apresentados como representantes do povo. Pois o sonho da nossa cidade, do nosso estado e de nosso país não cabem nas urnas. É claro que existe política além do voto, que parece ser, segundo o pensamento geral, o vôo mais alto que nossa gente pode dar (e é!) no contexto da democracia burguesa, onde o povo é acusado de não saber votar.
Na verdade, são marionetes nas mãos dos que conseguem se eleger e se intitulam “representantes” do povo. Gente que nunca foi representante de nada, muito menos do povo. São os “espinheiros” da fábula de Jotão*. Gente que consegue chegar às câmaras municipais, estaduais, federais e ao congresso, através da compra de votos de seus “representados”. Conseguem chegar ao poder através da propaganda enganosa, paga com o poder do muito dinheiro gasto nas campanhas eleitorais, e que tudo paga e a todos corrompem. São esses, dentro desse sistema falido e desumano os apresentados ao povo como seus representantes, e o povo não tem saída. Não tem escolha.
Na verdade, seus verdadeiros representantes estão calados, não têm a mídia para apresentá-los à cidade, ao estado e muito menos à nação. Mas seus verdadeiros representantes estão no meio do povo. Estão clamando por justiça, estão ensinando que a saída está na organização, na mobilização das massas populares, em Associações de Bairros, em Igrejas, em Conselhos. Não naqueles formados nos gabinetes oficiais para servir de cabide de emprego ou para dar visibilidade a outros tantos corruptos, verdadeiros ratos de gabinete, que pretendem projeção e cargos na administração pública. Mas conselhos que nasçam no seio do povo, Entidades que sejam sua verdadeira voz, onde haja participação popular. Local de aprendizado político e de reivindicação dos sonhos e necessidades da coletividade.
É de lá, das entidades populares que o povo vai exercitar democracia como ela deve ser. É organizado nessas entidades populares que o povo vai exercitar o poder e vai realmente governar. De lá, ninguém vai poder dizer que o povo não sabe votar, não sabe escolher, porque é de lá: dessas associações, dessas igrejas que estejam a serviço do Senhor e pregando o verdadeiro Evangelho que Cristo e a Igreja Primitiva pregou, ensinou e viveu; dos conselhos comunitários que o povo aprenderá e exercerá o seu direito e surgirão seus verdadeiros representantes. Assim se viverá a verdadeira democracia, quando todo poder emanará do povo e em seu nome será exercido, por ele mesmo! Então, não será mais preciso ninguém ensinar seu próximo a voar, mas todos incentivarão o vôo a todos!
*A parábola de Jotão, encontra-se no capítulo 9, versículos 9 a 21, do livro de Juízes da Bíblia Sagrada. Refere-se a um episódio em que o personagem que dá nome à parábola faz um discurso crítico, sobre Abimeleque, uma pessoa desprezível, que se tornou rei. Na parábola Jotão fala ao povo, que tivera a oportunidade de ter como rei pessoas muito mais bem preparadas – e aqui ele usa várias espécies de árvores frondosas, como metáfora, para comparar o rei que o povo escolhera a um espinheiro, que se achava muito importante e dizia iria abrigar a nação sob sua sombra.
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