Entrevista do Secretário de Obras de Itaguaí, Jack Fernandes, ao Jornal Atual

Por MONIQUE SURIANO - Jornal Atual, 23 de dezembro de 2011.

Comentando o temporal que se abateu sobre Itaguaí, na segunda-feira (19), o secretário municipal de Obras e Urbanismo, Jack Fernandes dos Santos Júnior, aproveitou para mais uma vez alertar a população para a necessidade de não jogar lixo em via pública e em cursos d’água. Segundo ele, muitos problemas de drenagem vêm se agravando há décadas com equívocos como as ocupações irregulares de faixas de proteção marginais. Convencido de que uma solução não é para já, Jack Fernandes deposita todas as suas esperanças em iniciativas como a segunda etapa do Plano de Aceleração do Crescimento, que, segundo ele, vai possibilitar a adoção de um sistema de drenagem para livrar a cidade do tormento que surge a cada novo temporal. Na entrevista que segue, ele fala sobre a estrutura de drenagem da cidade e, mais importante, sinaliza que a solução vem em 2013.

O secretário Jack Fernandes conclamou a população a não jogar lixo na rua e nos rios

ATUAL – A cidade está preparada para enfrentar o período de chuvas torrenciais?

Jack Fernandes – Essa chuva que se abateu na segunda-feira (19), pelo que eu vi na internet, foi uma chuva de 60,70 milímetros em 40 minutos. É uma grande chuva, mas eu já vi chuvas muito piores aqui em Itaguaí. Em 96, eu acho, nós tivemos uma chuva de 400 milímetros em 16 horas. Para você ter ideia de como foi, eu cheguei a Santa Cândida de urutu do exército. Essa enchente é famosa, destruiu Jacarepaguá, a Lagoa Rodrigo de Freitas transbordou, foi uma chuva de grande amplitude. Os estatísticos dizem que a probabilidade de ela ocorrer é de 50 em 50 anos. Não quer dizer que não possa ocorrer em dois anos seguidos.

E se uma chuva dessa proporção cai hoje na cidade?

Em qualquer lugar do mundo ela é uma calamidade. Agora em comparação com outras cidades, Itaguaí está muito bem. Em Itaguaí, você pode reparar que enche, mas rapidamente esvazia. No próprio Rio de Janeiro não é assim. A Praça da Bandeira, por exemplo, demora horas e horas para a água escorrer. E olha que está do lado do mar! Não dá vazão suficiente, mas apesar de encher, ainda está funcionando relativamente bem porque a drenagem é rápida.

Quais são os pontos críticos de Itaguaí?

O bairro do Engenho é bem crítico. Tem o Vila Margarida, o Ibirapitanga, aquela parte ali do final da Rua Bahia, Ponte Preta, uma parte do bairro Monte Serrat.

O Centro também enfrentou problemas na segunda-feira?

Com essas obras novas que a gente pretende fazer no Centro, vai existir um plano B, que vai desafogar a galeria e resolver de vez o problema de alagamento no Centro já para o início do ano que vem.

Porque esses bairros enchem tanto?

O que acontece basicamente em Itaguaí são dois problemas sérios. Primeiro, o crescimento desordenado ao longo dos últimos 30 anos. Esses bairros têm problemas sérios de drenagem, porque no passado houve ocupações sobre locais de faixa de proteção de marginal, que são locais não edificantes, justamente para que a máquina entre na lateral do valão e consiga fazer limpeza.

É uma situação que vem se agravando a cada ano, então?

Essas faixas foram ocupadas ao longo dos anos. É o caso da Rua 18, ali perto do Hiper Guanabara. Elas não poderiam ter sido ocupadas. Existem faixas que deveriam ter 12 metros de largura, para um canal de seis metros no Centro, que, na verdade, só sobrou um canalzinho de um metro. É o caso do bairro do Engenho. No bairro Vila Ibirapitanga, a gente tem muito caso de canalizações feitas no passado, onde você pega um córrego de quatro metros faz uma travessia de rua e bota ali uma manilhazinha de 1000. Quer dizer, não comporta.

O que mudou com o progresso?

Com o progresso vieram as obras, e com isso aumentou a taxa de impermeabilização do solo. À medida que se constrói as casas, você vai tornando o solo mais impermeável, você mata a vegetação. Quer dizer, tira a vegetação, constrói casas, pavimenta, então além de aumentar a sobrecarga, ficou difícil de dimensionar isso.

A solução é muito difícil?

Apesar de Itaguaí possuir no projeto básico um bom escoamento, ele foi totalmente deteriorado pelas ocupações clandestinas e até pelas obras feitas no governo passado, que não tiveram a fiscalização devida. Não se respeitou essas faixas de proteção marginal, não se respeitou os canais naturais que existiam, não preservaram isso!

E quais seriam as soluções imediatas para o problema?

Qualquer solução agora é muito paliativa. Se a gente tem possibilidades de segurar a onda como está, e num curto prazo dar a solução definitiva é melhor. Que será resolvida no Programa de Aceleração do Crescimento, que é o estudo de bacias e a implantação dos sistemas definitivos de drenagem do município.

Há algo que se possa fazer já?

A manutenção do dia a dia já está sendo feita, que é a limpeza das valas e galerias. Infelizmente nós estamos falando de bacias, locais de drenagem muito difícil. Ali na Rua 18, o valão chega a beirar com o meio-fio da rua quando ele enche. Essa obra da Rio-Santos também aumentou muito a descarga de água na área urbana de Itaguaí, porque a pista da Rio-Santos foi duplicada e a drenagem continuou sendo feita para dentro dos sistemas de drenagem antigos de Itaguaí. Ela impactou e não deu contrapartida. Não fizeram nada para melhorar o nosso sistema.

Que influências a obra do PAC II terá sobre Itaguaí?

O projeto é de macro, micro drenagem e saneamento básico. As obras vão abranger todas as áreas urbanas de Itaguaí. São soluções caras, impactantes e de longo prazo.

Uma grande dificuldade que Itaguaí tem é a pequena diferença que nós temos em relação ao nível do mar. Ali onde nós estamos construindo o Parque Municipal, por exemplo, o nível é mais quatro metros acima do nível do mar, que é uma maré média. Se você pega uma maré de ressaca com uma chuva torrencial, não tem jeito, não tem drenagem que dê jeito. Então olha a problemática!

Quando se pode esperar uma solução definitiva?

A solução existe. A obra é muito cara, em torno dos R$ 100 milhões, ou mais. Ela deve começar em 2013. O projeto do PAC II nós já ganhamos e vamos licitar no início do próximo ano. Vamos desenvolver o projeto o mais rápido possível e até junho do ano que vem acredito que ele esteja pronto. Depois a gente manda para Brasília, aí encaixa com um plano de trabalho, vamos supor de quatro anos, para começar em 2013. Não tem outro caminho.

Existe alguma forma de prevenir os alagamentos?

A população pode contribuir muito com a prevenção, como? Não jogue lixo na rua, não estoque barro na frente de casa, porque isso vai parar dentro do sistema de drenagem. Então a gente faz um trabalho árduo, desnecessário para tirar todo aquele barro de dentro daquela rede lá. Às vezes, no dia seguinte o outro vizinho vai lá e coloca o barro de novo. A participação da população é importante. Eu já viajei para outros países e vi o seguinte, é até hábito meu isso, se você vai sair na rua leva uma sacolinha plástica para acumular o lixo, chega a casa e joga no teu lixo. Agora, não coloque o lixo na rua, porque se a chuva pegar o teu saco de lixo ele vai parar dentro do bueiro.

A participação da população, então, é decisiva?

Uma vez eu tentei fazer uma limpeza no canal do Engenho, na parte onde ele é mais estreito, e encontramos vaso, sofá, televisão, liquidificador, entre outras coisinhas. A população é determinante nisso. Não adianta só o poder público agir. A população tem que participar. Como já dizia o provérbio antigo “a cidade mais limpa é aquela que menos se suja”, e é a pura verdade.

Por MONIQUE SURIANO - Jornal Atual, 23 de dezembro de 2011.

3 comentários:

  1. É muito triste ver um secretário de obras falando 'manilha' e 'valão'. Muito mesmo! E quanto à manutenção preventiva de córregos de pequeno e médio porte, é uma coisa que chega a ser ridícula, porque não é feito regularmente. Eu mesmo posso apontar quatro ou cinco córregos desse porte que tem meia década que não é feita nenhuma medida paliativa para isso. Secretário mais trabalho com seus recursos e um pouco menos de palavras para pedir mais verbas.



    Rodolfo Varize

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  2. OQUE ESTAMOS QUERENDO SABER DO JACK E CADÊ AS OBRAS DO BAIRRO IBIRAPITANGA 3 ATÉ O MOMENTO NADA DE DIGNIDADE NO NOSSO BAIRRO, RUAS SEM ASFALTO, SEM SANEAMENTO BÁSICO E ILUMINAÇÃO PUBLICA UM BAIRRO ABANDONADO JOGADO AS TRAÇAS, O PREFEITO ESTÁ SAINDO E AS OBRAS NUNCA CHEGARÃO

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  3. COMO JOGAR LIXO NO LIXO SE EM ITAGUAÍ NÃO SE ENCONTRA LIXEIRAS????????

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